Recolhida dentro da gaveta, como
cartas antigas sob laço dourado. Histórias, aventuras, medos e realizações, no
fundo da gaveta, esperando mão amiga para lhes salvar.
Assim ficam as pessoas reclusas,
que por algum motivo de maior ou menor significância, mas que certamente de grandeza
psíquica maior que um ser pode suportar. Ficam ali, amarelas, dobradas, talvez
sem nunca serem lidas. As traças podem fazer morada e se fartarem destas
fagulhas de vida registradas em tinta esferográfica de dramas e de sangue nas veias, vivas.
Deus, tenha piedade dos fundos
das gavetas.
Certo dia a mocinha encontrou no
fundo da gaveta um pacote de papel de seda amarelo. Fez com ele o maior frufru
de torcida que se podia vislumbrar naquele campeonato. Isto foi uma grande
surpresa e uma realização. Ela tinha sido enganada pela colega, com quem
dividira o papel que compraram juntas. O nome da amiga, não se lembra... Ninguém
se lembra... Mas a lição... ah a lição ficou embora isto se repetisse inúmeras
vezes depois.
Sempre há a esperança de que no
fundo da gaveta venha o balsamo, o socorro... Por isto esta é moradia e
recolhimento de almas em aflição.
Ah! Se todos os objetos
esquecidos no fundo da gaveta fossem “soltos”, talvez acontecesse como nos
filmes de invasão de insetos. Não sobraria espaço para mais nada que não fossem
os pequenos pacotinhos, laçados em fitas douradas, pululando por entre as
pernas das madames empertigadas (ou peruas exageradas?). Os pacotinhos dançando
ao som de macarena e as senhoras, peruas, segurando suas saias. Que visão
psicodélica! Não minha gente não bebi, não fumei. É tomei sim uma dose de
vodka, mas não o suficiente para o delírio. Estou mesmo rindo de mim... lá, de
pacotinho entre as pernas trôpegas das peruas.
As aventuras de pacotinho de
carta adornado de laço dourado. Subiria em alguns sapatos e em gritos histéricos as senhoras fugiriam
pelos corredores afora. Isto é uma fantasia sádica para simbolizar o sentimento
de vingança pessoal. Que coisa feia vingança pessoal, mas do ser humano. Mais
alguma coisa que faz com seres humanos sejam humanos. Quem nunca teve uma
fantasia sádica destas?
Mas no fim, o que queria mesmo
era ficar ali, no fundo da gaveta, quietinha, amarrada em um laço dourado,
guardando confidencias, sonhos e dramas a serem lidos por olhos atentos e
coração aberto. By Eu mesma! out/2012
Ah, é verdade! Se nossas gavetas dessem vida aos objetos de nossa história, que revolução, hem?
ResponderExcluirParabéns! Belíssimo texto, este!
Entao Sr. Luiz de Aquino, abra sua gaveta e nos mostre.
ResponderExcluir