domingo, 7 de outubro de 2012

A REVOLUÇÃO DOS PACOTINHOS - UM SURTO QUALQUER



Recolhida dentro da gaveta, como cartas antigas sob laço dourado. Histórias, aventuras, medos e realizações, no fundo da gaveta, esperando mão amiga para lhes salvar.
Assim ficam as pessoas reclusas, que por algum motivo de maior ou menor significância, mas que certamente de grandeza psíquica maior que um ser pode suportar. Ficam ali, amarelas, dobradas, talvez sem nunca serem lidas. As traças podem fazer morada e se fartarem destas fagulhas de vida registradas em tinta esferográfica de dramas  e de sangue nas veias, vivas.
Deus, tenha piedade dos fundos das gavetas.
Certo dia a mocinha encontrou no fundo da gaveta um pacote de papel de seda amarelo. Fez com ele o maior frufru de torcida que se podia vislumbrar naquele campeonato. Isto foi uma grande surpresa e uma realização. Ela tinha sido enganada pela colega, com quem dividira o papel que compraram juntas. O nome da amiga, não se lembra... Ninguém se lembra... Mas a lição... ah a lição ficou embora isto se repetisse inúmeras vezes depois.
Sempre há a esperança de que no fundo da gaveta venha o balsamo, o socorro... Por isto esta é moradia e recolhimento de almas em aflição.
Ah! Se todos os objetos esquecidos no fundo da gaveta fossem “soltos”, talvez acontecesse como nos filmes de invasão de insetos. Não sobraria espaço para mais nada que não fossem os pequenos pacotinhos, laçados em fitas douradas, pululando por entre as pernas das madames empertigadas (ou peruas exageradas?). Os pacotinhos dançando ao som de macarena e as senhoras, peruas, segurando suas saias. Que visão psicodélica! Não minha gente não bebi, não fumei. É tomei sim uma dose de vodka, mas não o suficiente para o delírio. Estou mesmo rindo de mim... lá, de pacotinho entre as pernas trôpegas das peruas. 
As aventuras de pacotinho de carta adornado de laço dourado. Subiria em alguns sapatos e  em gritos histéricos as senhoras fugiriam pelos corredores afora. Isto é uma fantasia sádica para simbolizar o sentimento de vingança pessoal. Que coisa feia vingança pessoal, mas do ser humano. Mais alguma coisa que faz com seres humanos sejam humanos. Quem nunca teve uma fantasia sádica destas?
Mas no fim, o que queria mesmo era ficar ali, no fundo da gaveta, quietinha, amarrada em um laço dourado, guardando confidencias, sonhos e dramas a serem lidos por olhos atentos e coração aberto. By Eu mesma! out/2012

2 comentários:

  1. Ah, é verdade! Se nossas gavetas dessem vida aos objetos de nossa história, que revolução, hem?
    Parabéns! Belíssimo texto, este!

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  2. Entao Sr. Luiz de Aquino, abra sua gaveta e nos mostre.

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