terça-feira, 30 de outubro de 2012

A VIDA PASSA


janela da minha cozinha - lua ao fundo

6:15
22 graus
O despertador nos levanta, a mim e meu filho. Temos escola, trabalho... Segunda-feira, muitos projetos, tarefas, final de mês e a grana já esta curta.
Coloco o café para fazer, preparo a lancheira e antes de ir para o banho, dou uma espiadela pela janela da cozinha.
Que beleza de lua! Ainda marcando sua presença em um céu quase rosa de sol.  Saúda-me o dia . Prata no ceu azul de minha cidade e da janela de minha cozinha e na foto pequenina.
Da janela da cozinha quantas mulheres antes de nós viram a vida passar? Quantas viram seus homens indo para lida da roça? Quantas enxergaram a roseira lá fora a exalar seu perfume e depois seus filhos também irem para roça. E depois do almoço para escola rural.
Quantas lembranças ficaram na janela da cozinha? Quantas ternuras, tristezas e pensamentos distantes...
Hoje a lua, bem cedo, sorri  insone. Incansavelmente sempre estivera ali velando pelas almas cansadas e persistentes em suas promessas de dias melhores. Alí estivera fazendo-se luz nos caminhos dos andarilhos. Nas matas estivera inspirando a correria dos animais em busca de suas presas e nas cidades condecorando  o canto dos pardais assentados em fios elétricos.
Quantas juras aconteceram sob esta lua nesta noite? Quantos casais nas varandas das casas nas cidadezinhas do interior, quantos aventureiros corajosos cantaram em seu louvor.
A temperatura aumenta, o café exala seu perfume, o pão quente remete a lembrança da vida que acorda para mais um dia de vida vivida quando a escolha é apenas uma ilusão. By Glaucia

sábado, 27 de outubro de 2012

VIDA NOTURNA - BEM DIFERENTE DA BOITE AZUL




Dança do Acasalamento - Óleo sobre Tela 2006 - Claudio Dikson
E na vida real, na vida noturna, na hora do lazer e do prazer, o que se vê são grupos femininos e masculinos, que se estudam, se observam como grupos de feras que estudam uns aos outros antes de uma batalha.  Fiquei 7 horas observando, por uma obrigação de trabalho e o que vi foi isto. Danças sensuais, que imitam atos de intimidades entres seres humanos ou bichos, ou bicho homem, ou todos. Como se fosse uma dança do acasalamento. Embalados em bebida alcoolica e musica de qualidade duvidosa (ritmos únicos que alternam letras de conteúdo malicioso com letras de conteúdo malicioso). Relações humanas modernas, leves e descompromissadas? Relações legítimas? Relações humanas? Relações? Na Boite Azul, havia lamentos e ais, romantismo boêmio, desabafos e consciencia da infelicidade onde o homem (autor) buscava remédio para seus males de amor. Aqui, nesta boite, sofrer de amor é ridículo.
De repente como ao final de uma contagem regressiva, se atracam de forma desordenada, meio escandalosa para alguns parâmetros (não sou moralista nem apoio o donzelismo, mas uma dose de preliminares no lugar certo poderia fazer mais belo o contexto), como se não houvesse o compromisso nem consigo mesmo. Como se só existisse a necessidade do corpo, que provavelmente em anseio da alma, anseio confuso e corpo profanado, sob efeito das bebidas se balançam e se lambusam (estranho, eles não comem! Apenas bebidas em suas mesas!)
Assusta-me o papel das mulheres, as independentes, as fortes que na verdade parecem frágeis e delicadas, malditas pelos grupos de rapazes como produtos de feira, como carro usado no feirão do Serra Dourada. Enquanto exibem seu melhor banho e brilho, os olhos críticos dos possíveis pretendentes desnudam cada pequeno arranhão de sua lataria com o intento da melhor escolha.
É triste, mas não vi ou ouvi conversas, não vejo sorrisos. As meninas “plastificam” expressões montadas para deixar os lábios mais sensuais e o bumbum mais arrebitado e os rapazes levantam os ombros para parecerem mais bombados e fortes.
Pela madrugada, eles e elas, depois de terem trocado algumas vezes de pares vão para suas casas, sozinhos ou com seus grupos e/ou tribos talvez sonhem com um amanhã mais seguro e mais promissor. Não sei onde vamos parar! Só posso dizer que tenho medo pelo futuro de nossos filhos. By Glaucia

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

SE (Por meu amigo Eduardo Dehira)



Ao céus a estreita saída...
...que paira sobre mim o alto preço,
pago os pecados de minha vida
mando nota a qualquer endereço...
Jogou sujo, dedo na ferida,
na prisão sem grades eu confesso...
...detalhes em minha despedida
vi assim tudo errado, e do avesso...
Se eu usasse o poder que acho que tenho,
viraria um herói derrotado,
aquém , magoado, desdenhado...
Gravaria em mim lindo desenho,
que mesmo assim amado e largado,
fosse o sinal que um dia fui amado...
Eduardo de Sá Dehira

NÓS, O PODER E A POESIA


Temos nossa fé, nossa religião,
nossa academia e nossos blogs.
Pisamos nossos orgulhos, vaidades
Vaidades...
Não temos vaidades
Temos solidão
Nossa companheira amada que em nossa obstinação
Queremos saber, dominar, controlar...
Controlar o todo e  o tudo
Podemos dominar o mundo as dores, as fantasias, as festas
Podemos tudo, podemos mais
Loucuras de vida debulhada em cascatas psicodélicas de cores
Loucas em dias quentes e noites insones
Terra sem lei, sem justiça, sem mapas nem manuais
Pisamos nossos orgulhos, vaidades
Podemos tudo? Podemos mais?
Controlar a chama, dominar o fogo, apagar o passado
Podemos mais.
Podemos gerar a vida, alimentar a alma, conduzir rebentos
Temos nossa fé, religião
Nossas academias e nossos blogs
Nossos amores, nossas dores, nosso oferecer e fenecer sem fim
Até o fim, além do fim guiado na esperança incondicional.
By Glaucia Ribeiro e Lis Borges

sábado, 20 de outubro de 2012

(DES)ADMIRAÇÃO





Quando deixamos de admirar alguém, fica algo oco por dentro. Um buraco e uma sensação de engano. O sentimento de ter sido enganado é o  pior de todas a emoções. Deve vir diretamente do inferno ou de um lugar bem parecido. Pior que este sentimento, só o ciúme. O ciúme é o campeão do veneno.  A combinação destes dois então... é o flagelo na terra.
Mas este post deve ser sobre admiração. Ando (ou navego) refletindo e concluindo por aqui que a admiração, ao contrário do flagelo citado acima, é a benção de Deus para que os homens pudessem crescer e desenvolver  a si mesmo mesmos e o nosso mundo.  Vale frisar, homem e mundo aqui, são praticamente sinônimos.  Mas o homem tem lá suas desilusões e com frequências deixa de admirar seus objetos de amor.
E quando deixamos de admirar? O ser admirado perde o sentido de ser e morre. O que morreu não fará a menor falta mais. Quando a admiração se vai, a magia vai embora junto. Quando começamos a achar feio o que antes nos era mais belo a  dor da perda é muito  profunda. É  morte da fantasia portanto é  morte de uma parte de  nós mesmos  que precisa ser enterrada e até celebrada.
Estamos povoados de fantasia por dentro assentadas em  nossos próprios desejos e sonhos. Todos  sonhamos.  Talvez até os cachorros sonham. O meu, o Otto, quando dormia, rosnava, chorava e até ria... Então o sonho que sonhamos para nós mesmos e para as outras pessoas é cenário para admiração que vamos construindo devagar, com base em vínculos, em confiança. Não posso esquecer-me do que a Rosi me disse: “vínculos são criados pela vida”.  Mas o sonho pode sustentar a admiração eternamente.
Enquanto passeio por este teclado, me ocorre que  admiração acaba quando acaba também a confiança. Dizem que confiança quebrada é um rasgo no ego que não tem cicatrização, não tem Super Bonder  que de jeito. Confiança é um bem maior de almas que se comprometem em algum lugar além do arco-íris. Segundo minha amiga Hellen, (mais racional que a maioria de minhas amigas, mas não menos romântica),  confiança é acreditar em alguém sem dúvidas ou questionamentos. É saber-se estar seguro. Parece letra de música da Legião Urbana. Mas entendo por que ela  não admira quase ninguém, pois provavelmente não acredita em muita gente, assim  como eu também não.  Quem sabe melhor assim.
Nosso líder Chico Xavier costumava ter em cima de sua cama uma placa com os dizeres: ISSO TAMBÉM PASSA! Ele queria se lembrar de  que todas as coisas na vida são passageiras. As dores, os amores e também os prazeres. Então por que não a admiração? Se esta é uma fantasia que vai ao coração do admirador. Se assim é, também passa. No coração humano moram o  céu e o inferno, o flagelo do engano e do ciúme e a bendita admiração que passa, que passa, que passa com as aberturas dos véus. Ficam nus os corações dos homens e talvez dos bichos. Sem admirar ficam apenas os sonhos tolos, insignificantes de outrora  e a riqueza da evolução. by glaucia