quarta-feira, 13 de novembro de 2013

SÉRIE: CRÔNICAS DE MINHA VIDA

Aos 4 anos fui pra escola. Meu pai achava que meninas deviam estudar para ter um futuro melhor do que o tanque. Ele mesmo tinha concluído o quinto ano primário e foi até professor!
Me matricularam numa escola próxima. A única escola da zona rural em que morávamos.
Minha professora (soube a pouco tempo que desencarnara) chamava-se Tia Ilma. Eu era o dodói dela. Pequenina, cabelo de ouro, olhos azuis . Naquele tempo eram azuis e não verdes como agora. Não sei se mudara a percepção das pessoas ou se menina pobre de roça é bazé mesmo e qualquer olho claro é coisa de princesa reverenciada. Não sei se já sofria bullyng por ter biótipo de boneca da estrela. Lembrando, só tinha marca Estrela neste tempo.
Mas aqui a prosa e outra. É sobre a escola. Ou sobre uma estrada!
Minha mãe, tinha muitos afazeres e terceirizava a tarefa de me levar a escola ao meu primo, moleque mal educado literalmente ( a mãe dele dormia durante o dia pois trabalhava a noite em lugar que naquele tempo nem imaginava existir).
Meu primo era sádico em fazer maldades comigo. Além de me fazer chorar criticando minha branquelice fazia coisas que minha mãe não sabia. Mas não me lembro.
A única lembrança consciente que tenho é que para ir a escola era necessário atravessar pato, mato e caminhar numa estradinha que tinha vacas. Eu tinha muito medo, mas ele prometia que me levaria até atravessar a rodovia. E la ia eu, tagarela, contando histórias ao meu primo  grande (ele deveria ter 16 ou 17 anos).
Quando no fim da historia, silêncio... Olhava para trás e meu primo havia me enganado me deixando sozinha no trieiro, no meio dos vacas. O fato é que ele parava, dava meia volta e ia embora sem que eu percebesse.
Ao descobrir isto eu voltava chorando e com medo pedindo ajuda que ele prometia e não cumpria. Sei que um dia ele levou umas chineladas de minha mãe, que achei ótimo, mas não sei dizer se foi por me deixar sozinha na  estrada.
A sorte é que não me lembro de amar meu primo. Só me lembro que o ajudei e à família dele quando em dificuldades alguns bons anos depois.  Mas continuo não amando- Devo voltar para minha estrada, onde permanecerei até a próxima viagem.
Minha violência nada mais é do que auto-defesa deste sol e desta poeira que me castiga na estrada.
Perdoe-me a dureza de meus espinhos.
by Glaucia

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